terça-feira, 8 de dezembro de 2015

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Tem dias que estou tão chateada, me irrita a convivência e a dedicação. Aqui, me recordo de estar solta em 60, de fingir a mim mesma tragar um maço e na sequência, ainda de bituca nos lábios enxutos, jogar da fresta pela qual escapa luz, uma máquina de escrever. mas, "just because i lost, it doesn't mean i want it back". E vou passando. Já saí de festas ao menos incontáveis vezes desde tal data, e chorei no meio da rua feito um bezerro desmamado. só eu sei. Do momento em que você comunica sua dor, agonia, incômodo ou seja lá o que queira, as caras mais patéticas vão desdenhando, fingindo gratuitamente estarem ali. tão preocupadas. Todo e qualquer ser humano, por mais bem intencionado que se proponha a ser, nasce medíocre e desleal à seus próprios instintos e durante isto que chamam viver, nunca cumprirão nada de si. E abalam tanto verdades e impressões, submeter-se é sempre a pior escolha, em bocas selecionadas vamos nos machucando, de modo que, estar exposto é como girar tendo pago ficha infinita no carrossel. Chega ao ponto em que a culpa e o orgulho se confundem e se dilaceram, da mesma coisa, da mesma epifania. E perto de um coração lustrado das vantagens pelas quais se aprenderam a lidar e racionalizar o que se propõe incomum à teoria, vai ficando cada vez mais a intranquilidade, a busca por resgatar, atender o que se renuncia pelo prazer de dar-se do pedido mais simples às consequências mais bruscas feito uma queda de cabeça ao parapeito, à alguém, porque "o eu não é senhor em sua própria casa." 



sexta-feira, 20 de novembro de 2015

ri

no limiar
entre paciência
e dificuldade
às vezes
a gente insiste
no amor
à alguma coisa torta
segue
tentando pensar
resgatar acerca do dentro
o que não lhe era estranho
chega a falta
os incontáveis dias de sofrer só
que é só que a gente é
e sabe
não vai ter palavra
nem gesto
doce
que cure
nem atenção
nem tanto carinho que supra
a vontade de ver
um sonho
uma casa
um retrato
uma lembrança




domingo, 8 de novembro de 2015

**

como pude perder um tanto da vida me prevenindo de alguma coisa?
e por isso vivi e me senti só
infinitas vezes de solidão ao cais
onde me encontrava junto dum sentimento bom e triste
misturando eu
minhas memórias
em torno de vozes 
que supunha virem do teu coração
e vieram
agora sozinha
mais que antes
tentando sarar algo quente ainda
algo cortado
tirado à faca feito a confiança que tive em ti
me movo breve e devagar
hoje na rua escura não corri de nada
não acompanhei os meninos
fui lenta do corpo estar tão cansado de deitar pra clamar por algo
algo que podia remendar
hoje sentei na areia fina
e vi o céu
olhei prum céu tão cativo de você
você quem me ensinou
tanto
a gostar do céu
e de tantas outras memórias que guardo
vou guardar
mas o que fica agora
é uma mágoa atropelada do que fomos
o nosso excesso
tudo em nós foi demais
tudo em mim é grande
e quando te encontrei
tudo em você era triste
e acinzentado
e não teve
e não vai ter
jeito
agora só tento
e mato
resquícios de você em mim
na minha mente manchada de tantos descompassos
de tantas tentativas
o que houve com a gente, só nós vamos saber
 a loucura dos dias
do cansaço
da fúria pela qual fomos guiadas a cometer tantos desalentes
e nos mostrar tão distantes do que pensei ser pra você
e do que você tentou se mostrar pra mim
linda, nua, plena, dos sons mais firmes que a gente emite quando ama
mas passou
e nosso tempo doeu e fez rir, como tudo na vida
e foi na ânsia de nos cuidar que nos perdemos


terça-feira, 13 de outubro de 2015

incontável

pela milésima vez
desisti de escrever
um tanto na cabeça
um tanto
desprotegido na alma
e dos silêncios mais demorados
mais tardios
mais fundos
o de agora
é o mais mortal


domingo, 3 de maio de 2015

*

ninguém sente nada
como a gente
nem se compreende
dentro de si
a solidão
é certa
é o que fica de cada coisa
de cada gente
é o que sobra

e li num canto
que migalhas são o que a boca não comporta


quinta-feira, 16 de abril de 2015

acorda

que todos os dias
cabe em mim
vontade de ti
é tempo
esse é
nunca suponha
o que não disse
não sinto
seja paciente
mais do que se mostra
eu sou tua
estou aqui
só existe amor
não cegue o coração 
com bobagens
com hostilidades
capte a mim
minha percepção é tua
tudo em mim
e mais que isso
fica
sempre saudade
não se engane
vivo por isso:
pra cuidar
de cada coisa
destinada a ti





sábado, 21 de fevereiro de 2015

pari passu

Num acesso, desejo de recorrer à Cortázar, páginas marcadas do meu abandono.  Por vezes me vem a “razidão” da fome de coisa alguma, pouquíssimas coisas tenho. Ignoro perceptivelmente a fala ambiente, tudo muito moral, uníssono, sentada a dedilhar inseguranças ao amigo, me acata, me cospe, desdenha, posto que choraria se à tona chegasse o que me incomoda (se já não está), sempre vacilante em supor o bom, o creme da coisa, tão boa a vida para eu estar triste sem razão. Estou.  Desconfio sobre nada, e tudo ao mesmo passo. Não há generosidade. Dizem que a melancolia é estado de luto sem perda. Dias a fio com a cabeça na cidade antiga, minhas coisas, os queridos, sem maldade, menos séria, cortejava a rua, as calçadas, cada personagem, não que seja saudade, não que agora desgostosa, mas debruçada sobre o xadrez, como se o xadrez fosse as mudanças que ainda me custam aos olhos e à cabeça assimilarem, dizem crescer, coisa que desprezo, meio drama adolescente, e se há coisa que não sou,  é estúpida. Me ausento por uns tempos, estar só e fazer isso era prático, agora não mais, perdi a manha de sair, preciso ficar, estar, ir um pouco para ver, observar, calcular em mim o que sinto, ainda que não me cause porcaria alguma, interrompida duas vezes por tentativas frustradas de uma cordialidade meio pagã, morna em mim, tanto faz.... tanto faz. E nem mesmo sei se espero chegar enfim ao tilintar do xeque-mate.