quarta-feira, 13 de junho de 2012

Avant

    Esta tatuagem que vês, feita por unhas tuas, marcas pálidas do desdém que não consegues expelir por palavras, respiração frouxa que anda em pernas a cambalear, jeito teu de tomar copos vendidos da coragem ilícita que me ofereces, ao chegar em casa. Agarra-se a minha face e afaga e afasta-se e faz-se monstro, revelando teu querer num hálito piedoso, hálito cotidiano, retrato constante do seio meu que tens a ti como homem, Deus de minha vida, razão atemporal de botões arrancados, para que venhas e peça perdão. Após o ocorrido faço café, dou-te um banho, enquanto tu me banhas em lágrimas, troco-te a roupa, adormeces enfim, sem saber que o sal que escorre de ti respinga nos cortes que fez inda a pouco, fazem arder cada pedaço de carne que machucas supondo ter razão... cortes que não deixam a mim, assim como eu de ti não me desfaço, mesmo sofrendo baixinho para que as paredes não espalhem folhetins maldosamente verdadeiros pelas ruas que te abrigam louco quando a tarde cai e nota-me perfumada para a falta de motivo que preenche o teu vazio racional. Testa-me novamente, esfrega-se, alimenta meu desgosto com fonemas que vão de encontro ao inferno, mas que voltam, como tuas mãos a avermelharem minha pele, desorganizarem meu viver.