Esta tatuagem que vês, feita por unhas
tuas, marcas pálidas do desdém que não consegues expelir por palavras,
respiração frouxa que anda em pernas a cambalear, jeito teu de tomar copos
vendidos da coragem ilícita que me ofereces, ao chegar em casa. Agarra-se a
minha face e afaga e afasta-se e faz-se monstro, revelando teu querer num
hálito piedoso, hálito cotidiano, retrato constante do seio meu que tens a ti
como homem, Deus de minha vida, razão atemporal de botões arrancados, para que
venhas e peça perdão. Após o ocorrido faço café, dou-te um banho, enquanto tu
me banhas em lágrimas, troco-te a roupa, adormeces enfim, sem saber que o sal
que escorre de ti respinga nos cortes que fez inda a pouco, fazem arder cada
pedaço de carne que machucas supondo ter razão... cortes que não deixam a mim,
assim como eu de ti não me desfaço, mesmo sofrendo baixinho para que as paredes
não espalhem folhetins maldosamente verdadeiros pelas ruas que te abrigam louco
quando a tarde cai e nota-me perfumada para a falta de motivo que preenche o
teu vazio racional. Testa-me novamente, esfrega-se, alimenta meu desgosto com
fonemas que vão de encontro ao inferno, mas que voltam, como tuas mãos a
avermelharem minha pele, desorganizarem meu viver.