segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Pompeii

     A necessidade que a fez gritar pro mundo é a mesma que nos faz calar por dentro, a boca costurar, os olhos fincarem os cílios, amanhã é tão proposital quanto o pé na anca de quem se odeia, mas não duvide! O coração é o eufemismo de todas as mazelas, o jeito maciço de adocicar aquilo que talvez amargue, queime e corte profundo. Quando a trombeta soou quis uma marcha fúnebre, qualquer coisa morta... Mas aquela era a valsa da Pompéia, a trilha do moço bonito de olhos verdes, o som dum momento já adormecido, aquele era o canto da paisagem vista de longe, a mais linda. Dormiu abraçada, acordou com um pincel no rosto, perguntando ela o que os homens queriam, porque lhe tiravam do seu trevo da sorte, que bem tinha causado ou que mal deveria ter se deixado fazer. E nem mesmo os caros instrumentos ou as mãos estudiosas, nem o arder da pele ou a larva que sucumbiu o que lhe sobrara eram capazes de medir o que merecia o fundo do velho lugar. Ali era o passado mais atual que carregara, era sua casa com jardim de para sempre, o começo e fim de um ciclo, ali deveras era só o fim... Mas nem por isso os braços se cruzavam, nem por isso as bocas tinham sabor de despedida, porque tudo se pode quando se é estátua, o que houve a perder ficou na lama, moldando a casca do pedaço insignificante guardado só e somente para Vesúvio, cinzas.