sábado, 20 de agosto de 2011

Manual

    O pecado fez-se, tudo consumado. Respirei raso, tentando incubar o mínimo de vergonha que me cabe, mas quando ouvi você dançar desfiz o passo do meu coração, disparei a correr pro mundo mudo, aquele nosso, transparentemente enrustido de eu e você. Não houve resposta, só a dor de uma palha seca carregada pelo vento, a voz a nos observar, o impulso de um sonho tolo e tão verdadeiro... Quanto hão de me custar os teus atos, os meus atos, a nossa falta de juízo pintada como uma tela a tom pastel? Onze meses, uma vida, dez mil planos e a vergonha eterna de mim. O desapego há de se iluminar num espaço cúbico, minha falta de carinho há de amansar meu sorriso puro e a ausência de tudo o que me faltar, juro não te esquecer, ser tua como sou dona de mim, não perderei a parte única que é você, todos passam tão de repente, me ganham como um rasgo e me deixam também como um. Meu desgosto é puramente não gostar de alguém, tenho medo do que me prenda, da forma como hão de me chamar, tenho medo de me acalmar com as coisas miúdas da vida, tenho medo de me perder na ponta do abismo que sou. Eu vento, assopro, eu queimo. Me love sem me levar a mal, me aceitando assim como um beijinho de boa tarde, docemente, e seja indiferente quando eu for, me abraçando só e apenas quando eu fizer cafuné pós-banho, que ria quando eu me estressar e que me enfrente quando eu perder a coragem de catar as flores que você sempre deixa sobre a cama e  que diga reparar no meu corte de cabelo quando eu não te levar a sério.