As palavras afiadas provém de sentimentos afiados. Digo comigo que tenho sido tão ríspida, de uma maturidade sólida que não se conjuga no viver e mesmo, sigo rascunhando o que tenho, mas sempre giramundo e não melhoro. A preguiça, por exemplo, não é culpa do sol ou das peles que às minhas mãos parecem trópicos, a preguiça é profana e se dilui como uma virgem ao vir o riso de um rapaz que lhe chupará os dedos até desbotar o esmalte. Se eu não tivesse preguiça, teria cansaço, e tenho também... aqueles cansaços de semanas que se estendem, do coração se aperrear até recorrer à patafísica... vontade de me olhar e dizer: "tens cansaço, preguiça, poeira e a vida, ela embolora, e o amor que se humilha às tuas indecisões, decerto, putrefará." Veja eu, desse jeito, trepidando e nua por esse apartamento, eu que tanto falo dos meus olhos e por eles sinto a ressaca de toda uma avenida, uma saudade de puta quando lhe dizem para tomar vergonha e foi-se o tempo da vergonha, e de ser artista-poeta-engajado... as coisas lindas são como os dizeres do meu último-grande-amor: inacessíveis. Mas as tenho procurado. E só erro. E não me importo. Quero o orgulho refinado de pensar que darei a alguém aquilo que ninguém dará, mesmo sabendo que se dobrar, me encontro em qualquer esquina.