domingo, 29 de maio de 2011

A xícara transborda

    Encontrei-me. Ah, como é bom abraçar-me e perceber-me intacta depois do longo tempo. Fui protegida numa espécie de cápsula, dei adeus ao mundo pálido que me perseguira num ano confuso, numa época velha e de velha rasgada, tão rasgada quanto a seda que desfizera os rubros cachos de um amigo imaginário meu. Fui tomada pelo ápice do ópio que me fez transgredir, regredir e depois alimentou-me a alma tonta, com pitadas de uma lucidez evasiva que fez gemer meu coração e tremer meu corpo, meu corpo sólido, ácido, quase um fruto proibido de olhar, resto de mim, minha fagulha, que podia ainda incendiar. Apaguei num segundo. Acordei de sonhos incertos e caminhando me despi de realidade, ah como foi bom! E só de imaginar quanta falta a parte integral me fez volto a duvidar de tudo o que possa me fazer voltar a fita, o meu destino é certo: eu quero é ferver.